Era Tão Bom, Não Era?...
Há duas noites atrás tive um
sonho, que de tão vívido que era, eu acordei a jurar que é tudo verdade.
Então a história do sonho era
assim:
“ Eu tinha-me deslocado a um
Hospital Público para visitar uma amiga que tinha tido um bebé; logo que entrei
no perímetro do parque de estacionamento, vi umas enormes bandeiras azuis da MEO a
esvoaçar, e um simpático rapaz com um “fato macaco” com MEO nas costas,
fazia-me sinal para estacionar… Eu estava a ficar um bocado abananada, mas
ainda a procissão ia no adro…
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Entrei no hall da recepção, e…música
ambiente. No balcão as funcionárias, todas elas fardadas com o logo da NOS num
sóbrio bordado à direita da blusa, mas nas costas um NOS maior, e vários “placards”
de conselhos médicos para pais e parturientes, todos eles em vídeo, numa
sofisticada rede de informação.
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Conforme passavam médicos e
enfermeiros, todos eles com as suas batas, mas com pormenores distintos, uns
com a MEO, outros com a NOS estampadas nas costas e nos bolsos dianteiros,
percebia-se claramente que estavam contentes a fazerem o seu trabalho, sem
muitos sinais de fadiga.
Depois de me identificar ao “segurança”
com o crachá da sua empresa, mas com um uniforme da MEO, subi num elevador
confortável, também com música, e entrei no corredor arejado e cheiroso que me
levava ao quarto da minha amiga.
Antes mesmo de querer ver o
bebé recém chegado a este mundo, eu não
pude conter o meu impulso:
“ Amiga, mas
que Hospital é este? Não me disseste que era público do SNS? Isto é um luxo!!!
Quase apetece ter bebés para vir para aqui, disse eu, meio a rir, porque, mesmo que quisesse engravidar só para estar
num sítio destes, já não tenho idade para isso…
E a minha querida amiga jovem
mamã, respondeu-me:
“Ó mulher, andas sempre em órbita, e não acompanhas estas
actualidades…
Agora, tanto a MEO como a NOS andam a competir em
negociações para patrocinarem os Hospitais Públicos, em todos os serviços:
Formação a Médicos e Enfermeiros, Serviços de Higiene e Bem Estar para os
utentes, cooperação para pagamentos de salários, e até ofertas para quem, como
eu, acabou de ter bebé, isto é, um futuro cliente de Telecomunicações…” e mostra-me radiante um pacotão de fraldas da marca X, mas
também com os símbolos da MEO e da NOS estampados na embalagem, mais 2 “babygros”
um de cada marca, mas sem deixarem de ser fashion para bebés.
Às tantas, um bocado enjoada de
tantas MEOS e NOS, eu ainda comentei:
“Ó pá, desculpa lá, mas isto é comprar as pessoas…”
E ela diz-me: “Ai é? Então no futebol não fazem a mesma
coisa? Para além de que aqui, se falharem um golo, ganha-se um caixão…”
“E então, o que é que o Hospital dá em troca?...”perguntei eu ainda atónita.
“Bem, pelo que as Enfermeiras me têm dito, os Hospitais têm
que garantir um Serviço irrepreensível, terem a Publicidades espalhada por tudo
o que é canto, até nos WC, fardas e camisolas, permitirem que sejam emitidas intervenções
cirúrgicas em directo, (com a devida protecção à privacidade do paciente) para
que médicos e enfermeiros de outros sítios possam aprender ou fazer pesquisa. Parece
que os contratos são milionários, na ordem dos 400 milhões por 10 anos…” respondeu a minha amiguinha, antes de dar de mamar ao seu
rebento.
Ainda estive ali por mais uma
hora, embevecida com o meu novo “sobrinho”, mas também estonteada com o
funcionamento daquele Hospital.
De repente acordei estremunhada,
apenas com uma pergunta na cabeça:
“Mas… E onde é que estava a
VODAFONE???”
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