Nasci em terras de África, no ex-Congo Belga e cheguei aqui com 3 anos,a roupa que tinha vestida, sem documentos nem referências,falando Francês que é a minha língua materna.
Depois de muitos anos de uma adaptação muito difícil e dolorosa, comecei a amar esta terra.
Tive que aprender tudo de novo, e como viajava muito para ir visitar a minha Mãe que vivia noutro país, voltar a Portugal era sempre uma dualidade:
Adorava o país, mas tinha saudades do resto do Mundo e da minha Mãe.
Então percebi que tinha ALMA de nómada, mas que gostava do meu cantinho Português, da comida, dos cheiros, do sol a nascer e a ir-se embora, da língua...
O que mais me pesava era a mentalidade tacanha, os preconceitos, os julgamentos...
Foi então que pensei:
"Se não os posso vencer, vou adapta-me a eles e marcar a diferença..."
Comecei por amar o ALENTEJO- talvez porque me cheirava a África-, depois o MINHO e o ALGARVE...
Eram pedaços do meu chão.
Hoje, vejo-me a defender esta Terra Lusa, na sua Essência, não própriamente nos seus costumes...
Quando, noutras terras me diziam que o povo português era muito hospitaleiro, cheirava-me logo a servilismo e abuso...e sentia-me humilhada e ferida quando nalguma loja (mesmo em Espanha) andavam sempre atràs de mim para verem o que eu fazia, logo que se davam conta de que eu falava português...
Apesar de hoje em dia não acreditar muito na História de Portugal, tal como me foi contada,eu vislumbro para lá das páginas escritas uma invencível vontade que este país tem de progredir e de SER LIVRE!...
Ao contrário de outros emigrantes que têm saudades do seu país natal, eu tenho saudades do país que me acolheu (mesmo por obrigação, porque eu cheguei com estatuto de refugiada de guerra).
À minha terra africana nunca mais voltei, mesmo sendo o continente dos meus antepassados,( tal como a Europa), pois sou uma estranha mistura de judeus de Cabo Verde com belgas...
De PORTUGAL eu tenho mostrado a minha gratidão:
Apesar de ter tido já excelentes oportunidades para emigrar também, DECIDI ficar, talvez para poder dar a outros aquilo que PORTUGAL me deu:
Um chão, um farol, uma oportunidade de fazer diferente...
Portanto, apesar de a minha Alma ser do Mundo, o meu coração bate e fala em PORTUGUÊS...
Eu nasci nesta terra. Vivi em África 6 anos. E daquela terra me ficaram os sons, as cores, o pôr-do-sol, a alegria. Nunca seria capaz de viver lá toda a vida, porque adoro a minha terra e o meu chão. Mas confesso que sinto saudades e que se me fosse possível gostari de rever África antes de morrer.
ResponderEliminarUm abraço